terça-feira, 14 de janeiro de 2014

NATURISMO E O TOPLESSAÇO





Será que podemos dizer que a nudez da arte do fotógrafo Spencer Tunick tenha algo a ver com o movimento nudista/naturista? E o topless? Termo originado do inglês que significa literalmente “sem a parte de cima” designando a situação na qual a mulher fica com os seios à mostra e não está vestindo nada da cintura para cima.  No final do mês de dezembro foi marcada pela internet uma manifestação chamada “toplessaço” onde, segundo informações das organizadoras tinham 4000 adesões. Compareceu meia dúzia.

Pelas fotos apresentadas nos meios de comunicação, não reconheci nenhuma das pessoas que fossem praticantes do Nudismo/Naturismo, pelo menos nunca fui procurado por elas para participarem do Grupo ao qual sou dirigente, nem mesmo para entenderem as propostas defendidas pelo estilo de vida nudista/naturista.

O “Toplessaço” surgiu de um incômodo da repressão ao corpo feminino. Inaceitável que o seio à mostra seja um caso de polícia. Ótimo, não estou contra essa manifestação, mas daí associar com o Nudismo/Naturismo é algo muito distante. O que elas reivindicam, há muitos anos (desde 1900) a filosofia nudista/naturista incorpora em seus contextos de forma muito mais abrangente, e ainda assim não compreendida. A Dissertação de Mestrado de João Paulo Cordeiro Reis apresentada na Universidade do Rio de Janeiro em 2008 diz ele:

Mais do que uma prática de lazer, portanto, o naturismo insere-se num movimento de crítica da cultura moderna, investindo na construção de novos valores e percepções sobre os seres humanos e sobre o mundo. Inspirados num imaginário sobre o indígena como um ser perfeitamente integrado à natureza e ao convívio social, os naturistas articulam diferentes elementos na construção de um ideal de vida e plenitude. À indiferença das relações entre as pessoas, ao hedonismo fútil da sociedade de consumo, à cultura da vergonha e da culpabilidade exaltam-se valores como o respeito mútuo, a aceitação da diferença, a fraternidade partilhada e a aceitação do corpo e de si.

Encarada pelos naturistas como um dos principais tabus das sociedades ocidentais, a nudez coletiva é percebida como uma prática dotada de significados sociais específicos, cuja principal característica seria o seu caráter transformador em relação ao indivíduo e ao grupo. Para os naturistas, a nudez coletiva pode ser percebida como um operador material e simbólico, modificando percepções, concepções e condutas sociais.

Esses argumentos de João Paulo explicam o motivo da falta da presença do Nudista/Naturista no “Toplessaço”. Não interessa ser vitrine para pessoas desprovidas da Cultura ao Corpo Livre (FKK sigla na língua Alemã), e desconhecedores das formas do corpo feminino. Daí surge a significativa diferença entre o que é pretendido pelos nudistas/naturistas do que é defendido pelo “toplessaço”. De maneira alguma estamos interessados na aprovação do outro do nosso corpo em função dos padrões de beleza estabelecidos pela sociedade, estamos sim em busca na nossa própria aceitação como indivíduos imperfeitos, únicos, diferentes na aparência e iguais na essência. O “toplessaçõ” busca a aceitação dos que estão de fora, o nudista/naturista faz uma viagem para dentro de si mesmo.

Tal como o poeta que às vezes ainda meio acordado e meio dormindo na madrugada escreve a poesia no seu silêncio, deixa manifestar a sua fluidez segundo a sua própria natureza; assim os nudistas/naturistas sem se importar com seus defeitos físicos entregam seu corpo à própria natureza. Nunca busquei aceitação do que escrevo de A, B ou C se isso acontecesse perderia o meu silêncio, a minha identidade e estaria negando os meus valores. Assim, os nudistas/naturistas meio parecidos com os poetas, simplesmente deixa fluir. A nudez do Nudismo/Naturismo é fluídica e não por imposição, nem pode ser de outra forma já que semelhante a natureza, nada é estático, tudo muda continuamente.

Mesmo que o “Toplessaço” não tenha tido uma presença significativa, mas mostrou que muitas mulheres tiveram vontade de participar e ficaram temerosas de se exporem, o que também é compreensível. Representa uma atitude louvável, provocando reflexões e põe o dedo na ferida: Se a sociedade não se incomoda com as agressões nos ringues, nos campos de futebol e nos noticiários sobre a violência, por que cria um problema quando o corpo está exposto se a ninguém agride? O nome para isso é “hipocrisia”, coisa que já estamos bastante acostumados a ver, parece tão difícil olhar o corpo humano com naturalidade nos dias atuais! Algo para ser pensado.




Evandro Telles
14/01/14